Diário de bordo- 22 de Junho


Achei por momentos que iríamos ficar perdidos, naquela imensidão branca, que parecia mesmo nunca acabar. Por onde quer que olhássemos, a paisagem era a mesma, um branco pontuado de escuro por algumas rochas e vegetação, para trás, montanhas, para a frente um infinito planalto branco.

A neve fustigava-nos a cara, batida por um vento cruel,como agulhas, mordazes, a mostrar quem manda, afinal que ousadia a nossa pensar que conseguíamos mandar na natureza. Os pés, estavam a nadar dentro das botas,ensopados em água gelada. No inicio do percurso, o bosque verde e branco,povoado de gulosas ovelhas, animou-nos na caminhada.


O frio era suportável e o que nos rodeava, superava tudo. Ao fim muitos quilómetros, tudo se transformou. Somando já algum cansaço senti mesmo um  momento de desespero. Era difícil,avançar por entre a neve, era frequente enterrar as pernas até ao joelhos, quando o manto branco não nos surpreendia com  um pequeno charco, onde mergulhávamos os pés uma e outra vez.
Senti-me pequenina e à mercê do tempo, de tudo o que me rodeava. A dada altura já nem os pés importavam, deixámos de evitar os charcos de água, o desafio era atravessar os riachos, caudalosos e revoltos. Foi apesar de tudo uma experiência fantástica, colocou um pouco a prova a nossa resistência física, tenho que reconhecer que não tenho o cabedal das norueguesas. A neve dificultou-nos seriamente a vida, apesar de nos ter enchido os sentidos. Amanhã espera-nos mais um percurso, provavelmente mais fácil, mas igualmente húmido. Chegamos ao abrigo de montanha, ansiosos por um banho e uma refeição quente. Não foi fácil tentar almoçar no cimo da montanha, debaixo de neve. 
Mais uma vez jantámos em grupo numa mesa corrida, o que me perece simpático e aproxima desconhecidos, unidos pelo gosto da montanha e das caminhadas. Pena é que não perceba palavra de norueguês...apenas quando falam inglês conseguimos comunicar. Cada abrigo, descobri hoje, tem as suas características próprias. Já não estranhei as pantufas à porta mas uma surpresa me esperava ... as casas de banho são no exterior, morres gelada, para conseguires satisfazer as tais necessidades mais básicas. Sentas-te num banco de madeira com um buraco e uma tampa, à moda das nossas antigas latrinas, olhas para o fundo e vês o andar de baixo, atolado de caca e papel higiênico, surreal. Fiquei a pensar se tinha coragem de ir  lá fora durante a noite. É melhor nem pensar nisso. O banho foi quente, e tem um compartimento com lareira só para aquecer e secar a roupa que por estes lados deve estar sempre ensopada...

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