Diário de bordo-dia 24 de junho
Já escrito há alguns dias, aqui vai a descrição do terceiro e ultimo dia da nossa aventura.
Por fim, o terceiro dia, o terceiro lado do triângulo, o finalizar do nosso objetivo.
Saímos cedo, esperavam-nos 10 horas de caminhada, pelo menos. Sabíamos que na véspera um grupo de noruegueses tinha feito o trilho, com muita neve e vento. Também sabíamos que as previsões eram boas, e apostámos, que apesar da inexperiência de caminhada na neve, teríamos fortes hipóteses de sucesso. Do nosso lado, tínhamos o facto de o grupo que fez o trilho no dia anterior ter deixado marcas na neve e que as marcações do próprio percurso continuavam, segundo eles, bem visíveis. Contra tínhamos as caras de cansaço com que chegaram ao abrigo, intimidavam quem se lançasse ao desafio. Despedimo-nos das nossas mais recentes amigas de caminhada, que nesse dia, iriam por outro percurso, e começámos. Logo de inicio, tínhamos à espera uma subida com cerca de 25% de inclinação, com cerca de 3 km.
Devagar e quase em escalada, ganhámos altitude, fazendo pausas para ganhar fôlego. No cimo esperáva-nos já os primeiros sinais de neve e uma paisagem em volta, de cortar a respiração. Não sentisse eu o cansaço da subida, achava que estava dentro de um avião.
A paisagem mudou ligeiramente de verde denso, para verde e branco e em vez de subida continua, tínhamos planaltos e subidas, alternadamente em degraus, até ao cimo. A neve começava já a pregar partidas, mas o sol animava-nos.
O que vimos a seguir não tem descrição, uma paisagem branca até perder de vista. Que fácil que parece caminhar, naquele manto fofo. Pura ilusão, durante quilómetros fizemos malabarismos na neve, evitando entorses e quedas quando nos enterrávamos mesmo até à cintura. Entre risadas e algum desespero, avançávamos a passo de caracol. Passámos entre dois lagos parcialmente gelados. Subimos mais um monte a resvalar na neve, não se via ninguém, só branco, céu azul, as nuvens, uns pássaros persistentes em viver no frio. Na neve, a marca dos nossos antecessores de caminhada e sempre presentes as marcas vermelhas do percurso. Do outro lado, mais branco e mais um lago e ao longe já se avistava terra sem neve.
Mais umas cambalhotas, mais um mergulhar de pés, dentro de água, debaixo da neve, uma risadas, e finalmente o almoço. Com vista para o lago e com o nosso camping gaz, lá comemos uma lata de almôndegas com pão norueguês. Reconforto para a alma. Estávamos a meio do percurso mas o mais difícil estava feito. Estaria...? Bem... Conciliem as dificuldades de um percurso de lama e neve, com terreno irregular, e um rio turbulento, sem ponte para o atravessar, e tínhamos ganho a nossa aposta. Depois disso e de vislumbrar umas renas de raspão, começou a descida lenta até ao vale. Em resumo foi esta a nossa aventura. Combalidos pelos quilómetros de caminhada num terreno que não nos é habitual, a neve, mais um desnível acentuado do percurso, chegamos ao abrigo, com uma andar novo...isto é trôpegos e muito cansados. De recompensa e apesar da hora tardia (21:30, não esquecer que neste sítios de janta às 18), um banho e um jantar quentinho a nossa espera, lareira, chá e uma boa noite de sono...
Satisfeitos!
PS: é notável a simpatia das pessoas que trabalham nos abrigos e a sua preocupação com os caminheiros. Quando um grupos ou um caminheiro sai de um abrigo em direcção ao outro, o outro é avisado, assim se algo acontecer, não há rede de telemóvel naqueles sítios, mandam equipas de busca. Não foi necessário, mas à nossa chegada já tínhamos alguém que espreitava os montes à espera de nos ver.
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